O parto hospitalar humanizado é aquele realizado com todo o aparato dos recursos de um hospital, mas que se baseia no conceito de humanização para prestar assistência à mulher, respeitando seus direitos e suas escolhas.
Pode ser um desafio ter o parto humanizado em uma instituição hospitalar, visto que há protocolos médicos que conduzem esse evento por uma abordagem intervencionista. Nesse cenário, a gestante pode contar com uma equipe especializada, integrada por enfermeiras obstetras ou obstetrizes — as parteiras urbanas —, que têm o conhecimento técnico e científico necessário para acompanhar a mulher desde o pré-natal até o pós-parto.
É oportuno deixar claro que o parto hospitalar humanizado não é um tipo de parto, mas um tipo diferenciado de assistência à parturiente. A equipe especializada ajuda a criar um ambiente de acolhimento e respeito, apoiando a mulher em suas decisões frente à possível cultura intervencionista dos hospitais.
O que significa humanização no parto?
O conceito de humanização é abordado há várias décadas na assistência ao parto, mas com diferentes sentidos, passando por diversos cenários — alguns, hoje, contraditórios. Já no início do século passado, por exemplo, renomados obstetras defendiam o uso de fórceps como forma de humanizar o parto.
Ainda nas primeiras décadas do século 20, algumas instituições realizavam o parto sob sedação total, chamado de “sono crepuscular”. A mulher sentia dor, mas não se lembrava do que havia acontecido durante o trabalho de parto, por consequência, não criava memórias traumáticas — aliás, não tinha nenhuma lembrança desse momento tão importante.
Após tantos estudos, descobertas e desdobramentos das práticas obstétricas, vemos que o termo humanização no parto teve diversas interpretações e propostas. Hoje, a assistência humanizada se baseia em direitos e evidências científicas, priorizando o respeito à mulher e a garantia de sua dignidade e autonomia para protagonizar o momento do parto.
Essas mudanças ocorrem lentamente, pois ainda encontram grande resistência no âmbito hospitalar e na sociedade. O parto vaginal ainda é, comumente, conduzido com imposição de rotinas e protocolos, traduzidos em intervenções obstétricas, muitas vezes desnecessárias, que podem interferir no desencadeamento natural dos processos fisiológicos do parto.
Assim, o parto passa a ser entendido, muitas vezes, como um evento patológico, traumático e doloroso, que coloca a mulher em uma condição de impotência sobre seu próprio corpo.
No parto hospitalar humanizado, a fisiologia do parto embasa a conduta. A mulher é protagonista, faz suas escolhas. A equipe de assistência obstétrica precisa respeitar esse papel de protagonismo da parturiente e interferir somente quando há riscos à mãe ou ao bebê.
Em síntese, o conceito de humanização no cenário atual da assistência ao parto significa a reinvenção do parto como experiência humana. Humanizar, nesse contexto, é tratar a mulher com dignidade e respeitar seus desejos e escolhas.
Humanizar o parto é melhorar a qualidade do cuidado com a parturiente e o recém-nascido, dando mais oportunidades de vivenciar esse momento, indo além da escolha entre o parto cirúrgico (cesariana) e o parto vaginal com intervenções — inclusive, o termo humanização também visa conscientizar os profissionais sobre a violência institucional, que deixa marcas.
Quais são os diferenciais de um parto hospitalar humanizado?
Uma fração significativa das mulheres relata ter passado por algum tipo de violência obstétrica durante o parto hospitalar, o que pode incluir:
- intervenções desnecessárias;
- procedimentos feitos sem o consentimento da parturiente;
- omissão de informações;
- desrespeito às escolhas e aos direitos da mulher;
- ofensas;
- abuso de poder da equipe médica;
- jejum prolongado;
- proibição da mulher em ter um acompanhante durante todo o processo.
No parto hospitalar humanizado, tendo a assistência da equipe de parteiras, a mulher é informada sobre os procedimentos médicos que podem ser realizados durante o trabalho de parto e sua autonomia é respeitada, dando a ela o poder de decisão — a não ser que a mãe ou o bebê esteja em risco, de modo que intervenções absolutamente necessárias e baseadas em evidências científicas podem ser executadas em algumas situações.
Embora ainda exista resistência à adoção integral da humanização na assistência médica, algumas instituições têm feito mudanças para se adequar e incentivar o parto hospitalar humanizado.
Há hospitais que estruturam quartos especificamente para o parto humanizado, com banheira, som ambiente, luz suave, músicas à escolha da parturiente, bola suíça e outros recursos que possam ajudar no trabalho de parto.
Além da preparação do ambiente, outros pontos que diferenciam o parto hospitalar humanizado são:
- presença de acompanhantes durante todo o processo — companheiro, alguém da família;
- enfermeira obstetra ou doula de escolha da mulher;
- participação ativa do acompanhante no trabalho de parto;
- respeito à golden hour (hora dourada), que é a primeira hora de pós-parto, ideal para o contato mãe-bebê e para o incentivo inicial à amamentação;
- permanência do bebê no mesmo ambiente que a mãe: o alojamento conjunto;
- apoio à amamentação, contando com o apoio de enfermeiras especializadas;
- respeito às condições e vontades elencadas no plano de parto — um documento que traz todos os registros de como a gestante gostaria de vivenciar o momento do parto, e que deve ser previamente apresentado ao obstetra, à equipe de parteiras e ao hospital.
Colocar essas condutas em prática é um desafio quando lidamos com um sistema de saúde que não encoraja a assistência humanizada. Por isso, é importante procurar o suporte de uma equipe de parteiras, integrada por especialistas em enfermagem obstétrica e ginecológica, que atua de forma diferenciada, fornecendo apoio, orientação e esclarecimento de dúvidas desde o pré-natal.
Afinal, ao obter informação sobre os procedimentos e protocolos médicos, você adquire entendimento e autoconfiança para não se manter em situação de alienação e impotência durante o trabalho de parto. Partindo disso, vemos que é possível ter um parto hospitalar humanizado quando os profissionais não se preocupam somente em intervir, mas também em acolher, preparar, informar e respeitar a mulher integralmente.