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Golden hour (Hora dourada)

Por: Shirley Fernandes

O nascimento de um filho é um momento marcante na vida da mulher. O dia do parto é carregado de fortes emoções — algumas positivas, outras não tanto, dependendo do tipo de assistência recebida. Um dos fatores determinantes para o bem-estar da mãe e do bebê é a golden hour.

A hora dourada é a primeira hora de vida do bebê, representa a transição imediata entre o ambiente intrauterino e o ambiente externo. O contato pele a pele (CPP) com a mãe, o mais cedo possível, é uma conduta terapêutica recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e várias outras entidades.

O Ministério da Saúde também recomenda que, ao nascer, por parto normal ou cesariana, o bebê seja imediatamente colocado próximo ao seio ou abdômen da mãe, em decúbito ventral (de barriga para baixo), em contato direto com a pele materna.

Portanto, a golden hour está em praticamente todos os protocolos no mundo, quando se trata de assistência humanizada, visto que reduz o choque do nascimento, traz conforto, segurança, aconchego e calor para o recém-nascido, além de vários outros benefícios para o binômio mãe-filho.

Essa ligação durante a primeira hora de vida auxilia o recém-nascido a se adaptar ao ambiente extrauterino, além de manter a regulação da temperatura corporal e criar oportunidade para a amamentação precoce.

Os bebês ativos nascem em estado de alerta, em resposta à ação de hormônios liberados durante o parto. Dessa forma, se forem colocados sobre o tórax da mãe na primeira hora após o nascimento, conseguem se movimentar em busca do seio materno e praticar a sucção — essa reação biológica é chamada de breast crawl, que significa rastreamento de peito.

O aleitamento precoce, o contato pele a pele e o clampeamento tardio do cordão umbilical são práticas simples, com base em evidências científicas, que caracterizam a golden hour, humanizam a assistência ao parto e trazem muitos benefícios fisiológicos e emocionais à mulher e seu bebê.

Quais são os benefícios da golden hour?

Sentir a pele, o cheiro e os batimentos cardíacos são fatores que ajudam o recém-nascido a reconhecer a mãe, facilitando sua transição para o ambiente externo ao sair de seu mundo intrauterino.

 

A golden hour:

  • reforça o vínculo entre a mãe e o bebê;
  • estabiliza as atividades cardiorrespiratórias;
  • reduz o risco de hipoglicemia;
  • mantém o calor do neonato;
  • diminui o estresse e a ansiedade materna, tranquilizando ambos, após as intensas emoções do parto;
  • favorece a amamentação e, por consequência, reforça o sistema imunológico da criança.

 

Dentre os benefícios mencionados, vale reforçar o estímulo ao aleitamento precoce. Durante a golden hour, os níveis de ocitocina continuam a subir e a liberação de prolactina é estimulada — ambos hormônios são essenciais para a produção do leite materno.

Além de confortar o bebê na golden hour, a indução ao aleitamento precoce é de extrema importância para reforçar o sistema imunológico. O leite materno é um alimento rico em anticorpos e o que mais atende às necessidades nutricionais do recém-nascido.

As características probióticas e imunológicas do leite materno reduzem os riscos de várias doenças. Além disso, a amamentação desde a primeira hora de vida está associada a um risco significativamente menor de mortalidade neonatal.

A golden hour é o ponto de partida, mas o prosseguimento da amamentação é igualmente fundamental para que a criança desenvolva mais resistência contra doenças ao longo da vida. Portanto, tem benefícios em curto e longo prazos.

Para resumir, o aleitamento materno, preferencialmente estimulado desde a golden hour, traz muitos benefícios para a criança, incluindo:

  • prevenção de infecções e alergias;
  • proteção contra morte súbita;
  • melhora do funcionamento gastrointestinal;
  • favorecimento do desenvolvimento craniofacial;
  • melhora do desenvolvimento motor;
  • prevenção de obesidade infantil e diabetes na vida adulta.

 

Não é somente o bebê que ganha com a amamentação precoce. A mulher que amamenta na hora dourada mantém a alta concentração de ocitocina, hormônio que também tem função na contração do útero após o parto, o que favorece a involução uterina e diminui o risco de hemorragia pós-parto.

O aleitamento materno ainda traz outros benefícios para a mulher, como:

  • menor risco de estresse e depressão pós-parto;
  • recuperação mais rápida do peso corporal anterior;
  • prevenção de diabetes tipo 2 e hipertensão arterial;
  • proteção contra câncer de mama, endométrio e ovário.

Por que nem toda mulher passa pela golden hour?

Há casos específicos em que não é possível realizar a golden hour, em razão da urgência em oferecer cuidados médicos ao bebê ou à parturiente. A Sociedade Brasileira de Pediatria não recomenda a hora dourada, por exemplo, para prematuros com menos de 34 semanas.

Outras condições neonatais que podem impedir essa prática são: necessidade de reanimação do recém-nascido, instabilidade hemodinâmica ou térmica e necessidade de suporte ventilatório. Algumas condições clínicas maternas também podem desfavorecer a realização da golden hour, como a hemorragia.

Na grande maioria das vezes, no entanto, é possível, sim, que se cumpra a hora dourada, mas isso pode ser dificultado pela falta de humanização no atendimento hospitalar. Nesse contexto, ainda temos muitos profissionais pouco preparados ou que priorizam os protocolos hospitalares e a conduta intervencionista, em detrimento do protagonismo da mulher, de seu direito de parir como quiser e de ter o contato imediato com seu bebê.

O contato pele a pele, muitas vezes, é interrompido pela equipe médica, de forma automática, para que sejam feitos procedimentos institucionais de rotina — muitos deles poderiam ser adiados para depois da golden hour ou feitos no colo da mãe.

Em sua maioria, tais procedimentos são feitos sem indicação obstétrica ou neonatal que justifique sua realização imediata. Percebemos, diante disso, que a institucionalização do parto e do nascimento ainda permite o predomínio ativo dos profissionais, colocando a mulher em situação de impotência, quando ela deveria ser protagonista desse momento.

Esse cenário sugere a necessidade de readequar a conduta dos profissionais de saúde no sistema obstétrico. A equipe de enfermagem tem papel central na garantia da humanização do parto, seja ele realizado em domicílio ou no hospital, seja por via vaginal ou cesariana — em todas essas situações, a não ser que exista indicação de intervenção imediata após o parto para a sobrevida do binômio mãe-bebê, a golden hour precisa ser respeitada.

A assistência humanizada e a garantia de um atendimento digno começam ainda antes do parto. Equipes de enfermeiras obstetras ou obstetrizes — as parteiras urbanas — atuam com a análise singular do perfil de cada gestante e assumem o papel de educar a mulher e sua família durante o pré-natal, esclarecendo dúvidas sobre as práticas realizadas durante o parto.

As parteiras ou enfermeiras obstétricas e obstetrizes têm conhecimento técnico e científico para oferecer suporte, orientação e assistência antes, durante e após o parto, acompanhando a mulher no parto domiciliar ou hospitalar.

A golden hour é uma das práticas mais valorizadas no parto humanizado, e a equipe de parto  tem a responsabilidade de promover e incentivar condutas de humanização na assistência à gestante/parturiente nesse momento tão importante.

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PERGUNTAS FREQUENTES

 

O que é (significa) golden hour?

Golden hour, hora dourada ou hora de ouro significam a mesma coisa: a primeira hora de vida do bebê, que tem como indicação o contato pele a pele com a mãe (ou com o pai em casos de intercorrências maternas). Hoje, a golden hour é realizada no mundo inteiro e tem seus benefícios bem estabelecidos.

 

Quais são os benefícios da golden hour?

A golden hour: aprofunda o vínculo entre mãe e bebê; estabiliza as funções cardiorrespiratórias; reduz o risco de hipoglicemia; mantém o calor do bebê; diminui o estresse e a ansiedade materna, tranquilizando também o bebê; favorece a amamentação e, assim, fortalece o sistema imunológico da criança.

 

O pai pode fazer a golden hour?

Em casos de intercorrências maternas, o contato pele a pele pode e deve ser realizado no colo do pai ou parceiro(a).

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