A amamentação é uma forma primordial de alimentar o bebê. Mais que isso, é um processo amplo e complexo, que envolve o vínculo entre mãe e filho, com repercussões importantes na saúde física, cognitiva e emocional da criança, bem como da mulher que amamenta. Entretanto, essa fase, em algum momento, é interrompida — de forma natural ou não. Por isso, é importante se preparar para o desmame gradual.

O desmame também é um processo, e não um evento que deve ser antecipado ou acelerado. Faz parte do desenvolvimento infantil. Assim como aprende a andar e falar, a criança precisa, em seu tempo, aprender a viver sem o momento da amamentação — que não significa apenas receber o leite, mas estar em contato tão próximo com a mãe.

Vendo dessa forma, entende-se que as crianças não andam antes de estarem naturalmente prontas para isso. Da mesma maneira, é importante respeitar o desenvolvimento natural da criança, observar os sinais de que ela está preparada e realizar o desmame gradual, ou seja, de maneira gentil, paciente e respeitosa, e desde que esta seja a vontade da mãe.

Quando forçada a passar de um estágio para outro de forma abrupta, sem estar pronta, a criança pode ter impactos em seu desenvolvimento emocional. Em se tratando de aleitamento materno, conforme a idade do bebê, há impactos também na saúde física.

Quais são os riscos do desmame abrupto ou precoce?

O desmame precoce é influenciado por vários fatores. Hoje, a mulher decide se quer ou não amamentar e por quanto tempo. Isso é compreensível do ponto de vista sociocultural.

Por excesso de demandas, rotina exaustiva de trabalho e outras razões, muitas mães interrompem o aleitamento materno antes do tempo preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — como alimento exclusivo até os 6 meses de vida do bebê ou complementar até 2 anos ou mais.

O desmame é considerado precoce quando por algum motivo acontece antes do sexto mês de vida do bebê, principalmente quando introduzido algum bico artificial. O desmame abrupto é aquele em que o aleitamento materno é cessado de modo inesperado, sem que a criança esteja pronta para isso.

Ao interromper o período de amamentação de forma abrupta, é comum que as famílias tentem substituir o seio por chupetas, mamadeiras, paninhos ou outros métodos que possam trazer consolo ao bebê. É uma forma de acelerar o processo de independência, mas pode gerar insegurança, entre outros efeitos negativos.

Dependendo da idade do bebê, o desmame forçado entra em conflito com suas necessidades nutricionais, favorecendo doenças alérgicas, deficiências no sistema imunológico, problemas gastrintestinais, além de interferir no desenvolvimento das estruturas orofaciais. Também existem repercussões em longo prazo, como o risco aumentado para obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Mesmo em crianças maiores, com algum entendimento, o desmame abrupto é desencorajado. Ainda que os efeitos na saúde física já não sejam tão arriscados — se a aceitação de alimentos já estiver bem estabelecida —, existem os efeitos emocionais dessa ruptura. A criança pode se sentir insegura, rejeitada pela mãe e até manifestar alterações de comportamento, tornando-se mais rebelde.

A mulher também pode ter problemas com o desmame abrupto, como ingurgitamento mamário, mastite, alterações hormonais, entre outros. Além disso, precisa estar preparada para as possíveis implicações emocionais de acelerar esse processo, como ansiedade, luto pelo fim da amamentação, culpa e arrependimento.

Quando iniciar o desmame gradual?

O desmame pode levar tempo, então o mais recomendado é que seja iniciado com 18 meses ou mais, período em que a criança já tem certo nível de entendimento e boa aceitação a alimentos diversos, além de estar próxima dos 2 anos, conforme as orientações da OMS.

O desmame é um processo lento e gradual e, ainda, depende de fatores como alimentação introduzida, rotina da mãe, frequência em escolinha, entre outros. De todo modo, o processo de desmame tende a ser bastante desafiador e, por este motivo, contar com a ajuda de um profissional qualificado pode fazer a diferença.

O desmame gradual, como o próprio termo indica, acontece aos poucos e nem sempre acontece rapidamente. Alguns sinais dizem se a criança está madura para encarar essa mudança de fase, como:

• menor interesse nas mamadas;
• facilidade para aceitar outros alimentos;
• aceitação de outros métodos de consolo quando chora;
• facilidade para dormir sem pegar o peito.

Além dos sinais observados na criança, alguns pontos são facilitadores no processo de desmame gradual, por exemplo:

• segurança da mãe quanto à decisão de desmamar;
• paciência e flexibilidade, pois o processo pode demorar e o curso é imprevisível — cada criança responde de uma forma;
• ausência de outras mudanças na fase do desmame, como desfralde, início da escolinha, afastamento de uma pessoa próxima etc.

Outro ponto importante durante o desmame gradual é não oferecer o seio, mesmo quando a criança chorar ou tiver dificuldade para dormir, pois existem outras maneiras de acalmar a criança sem oferecer o seio, e esta é a proposta do desmame guiado.

Por que contar com a consultoria para desmame gradual?

Muitas mulheres têm dúvidas e se sentem inseguras para realizar o desmame. É importante que, assim como a criança, a mãe esteja preparada para participar ativamente do processo, agir de forma cuidadosa e impor limites adequados.

Para facilitar essa transição, nossa equipe trabalha com a consultoria para desmame gradual. É indicada para famílias com crianças a partir de 18 meses e que tenham algum nível de entendimento.

A consultoria para desmame gradual é realizada em 3 encontros. A primeira consulta dura cerca de 2 horas e pode ser feita de forma presencial ou por chamada de vídeo. Nesse momento inicial, todas as questões relacionadas ao desmame são levantadas e avaliadas com base nas necessidades e nos objetivos da família. A partir disso, traçamos uma meta para a 1ª etapa do processo.

As duas outras consultas são mais breves (cerca de 40 minutos) e feitas online, via chamada de vídeo. Assim, podemos acompanhar a evolução do desmame gradual, esclarecer dúvidas e reavaliar as estratégias de ação, respeitando as necessidades de cada família e contornando as dificuldades que possam ter surgido até o momento.

As estratégias para facilitar o processo podem variar de acordo com a idade da criança, a disponibilidade da mãe e outros fatores. Por exemplo, no caso de crianças maiores, capazes de manter pequenos diálogos e entender regras simples, é possível envolvê-las diretamente no planejamento do desmame, explicando as mudanças que vão acontecer e os motivos.

Como se trata de um desmame gradual, é preciso que seja conduzido de forma gentil, com paciência e naturalidade, sem estresse para a mãe e a criança. Para isso, o suporte da equipe de enfermeiras obstetras e especialistas em cuidado materno-infantil faz muita diferença. Seguindo as orientações certas, a família pode passar por essa fase de maneira segura, favorecendo uma transição tranquila.