A assistência ao parto passou por muitas mudanças ao longo do tempo. Nas últimas décadas, especialmente, tem havido um movimento importante das entidades de saúde a favor de práticas humanizadas, que são fundamentais para o bem-estar da mãe e do bebê, uma delas é a golden hour ou hora dourada.
No passado, as mulheres tinham seus filhos no seio familiar — o que chamamos de parto domiciliar ou parto em casa —, com a ajuda de parteiras. Com os avanços da medicina e o surgimento da medicalização, o parto foi institucionalizado e passou a ser feito prioritariamente em ambiente hospitalar.
A institucionalização do parto foi defendida por décadas e décadas pelo fato de oferecer mais recursos para reduzir as dores da gestante, acelerar o trabalho de parto e salvar a vida do binômio mãe-bebê diante de complicações e emergências. Entretanto, o poderio do “saber médico” foi mais valorizado que o protagonismo da mulher em seu processo natural de parir, o que contribuiu para a violência obstétrica.
Essa forma de violência pode ser física ou psicológica, tornando traumático para a mulher um momento tão central em sua vida e que deveria ser recordado de forma positiva. Assim, novamente houve necessidade de adequar as práticas da assistência ao parto e nascimento.
Hoje, há muitos procedimentos que já não devem ser feitos sem a autorização da mulher, bem como outros que são fortemente incentivados, sendo a golden hour um dos mais importantes.
Continue a leitura e conheça os benefícios dessa prática!
O que é golden hour ou hora dourada?
É chamado de golden hour o momento em que o bebê sai do útero materno e é colocado sobre o tórax da mulher, para que tenha o contato pele a pele e reconheça sua mãe. Essa conduta é incentivada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois facilita a adaptação da criança ao ambiente extrauterino.
A hora dourada é um protocolo que deve ser seguido e respeitado tanto no parto domiciliar quanto no hospitalar, independentemente da via de parto (vaginal ou cesárea), exceto em condições específicas, como as emergências do pós-parto imediato.
O procedimento consiste em colocar o bebê de barriga para baixo sobre o abdome da mãe, próximo ao peito, imediatamente após o nascimento. Há casos de crianças que conseguem, inclusive, se movimentar em busca do seio, o chamado “the breast crawl” ou “rastejar até o seio”.
A golden hour é baseada em evidências científicas e é uma das condutas que não pode faltar quando falamos em humanização da assistência ao parto, pois ajuda a fortalecer o vínculo entre mãe e bebê, além de muitos outros benefícios físicos e emocionais.
Quais são os benefícios dessa prática?
Diversos estudos já comprovaram o quanto a hora dourada é benéfica para ambos.
O bebê sente o choque do nascimento, visto que sai do ambiente intrauterino — onde está totalmente protegido, aquecido, nutrido e confortado pelos sons do corpo materno — para se deparar com o amplo espaço, a movimentação, os barulhos e a mudança de temperatura do mundo externo.
Somam-se a isso as intervenções médicas que, geralmente, são feitas logo após o bebê nascer — muitas vezes, sem realizar a golden hour —, impactando ainda mais esse momento.
Não é somente o bebê que precisa do contato imediato com a mãe para se sentir seguro e acolhido. A mulher passa pela intensa experiência do parto, desejando ver seu filho e tê-lo nos braços, mas isso nem sempre acontece. Muitas são separadas de seus bebês devido aos protocolos da assistência hospitalar, e esse contato inicial, que é tão valioso, dura poucos minutos ou acontece somente depois dos primeiros cuidados.
Veja quantos benefícios tem a realização da hora dourada:
- reduz o choque do nascimento, pois garante conforto ao recém-nascido, que reconhece sua mãe por meio do cheiro, da voz e dos batimentos cardíacos;
- mantém a temperatura corporal do bebê e estabiliza suas atividades cardíacas e respiratórias;
- incentiva a amamentação precoce, que, por consequência, tem outros inúmeros benefícios para a saúde da criança e da mulher;
- diminui o risco de hipoglicemia;
- faz bem para as funções imunológicas do bebê;
- tranquiliza a mãe, após o estresse e a ansiedade sentidos durante o trabalho de parto;
- favorece o estado emocional da mulher, diminuindo o risco de depressão pós-parto;
- fortalece o afeto entre mãe e filho.
Em quais situações não é possível fazer a golden hour?
Na maioria dos casos, é possível realizar a golden hour. Apenas em situações específicas, essa prática não é cumprida, por exemplo quando:
- o bebê é prematuro, com menos de 34 semanas;
- é preciso reanimar o bebê logo após o nascimento;
- o recém-nascido apresenta instabilidade térmica ou hemodinâmica e precisa de suporte voluntário;
- a mãe apresenta hemorragia ou alguma outra complicação obstétrica.
Quando não há necessidade de procedimentos imediatos, a hora dourada deve ser respeitada. Infelizmente, ainda existem muitas equipes de assistência ao parto hospitalar que não priorizam as práticas de humanização e se apoiam na conduta intervencionista, negando o papel protagonista da mulher e dificultando o encontro imediato com seu bebê.
Em casos de intercorrências maternas, o contato pele a pele pode e deve ser realizado no colo do pai ou parceiro(a).
No parto domiciliar humanizado, a golden hour sempre é respeitada, sendo essa uma das condutas que consideramos imprescindíveis. Nossa equipe de parteiras, formada por enfermeiras obstetras e obstetrizes, reconhece a importância da hora dourada para a mãe e a criança, por isso, favorecemos e incentivamos esse momento, seja no parto em casa, seja no acompanhamento hospitalar.
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